Bbabo NET

Economia & Negócios Notícias

Saída do Citigroup no México gera temores sobre o destino da coleção de arte

O Citigroup está vendendo o Citibanamex, cujos ativos incluem uma vasta coleção de obras-primas mexicanas.

Cidade do México, México – No barroco Palácio de Iturbide, no centro da Cidade do México, alguns dos tesouros artísticos mais preciosos do país podem ser encontrados no Fomento Cultural Citibanamex – o centro de desenvolvimento cultural pertencente ao gigante financeiro norte-americano Citigroup braço de banco de consumo no México.

A exposição atual, que abriu em novembro e vai até maio, conta a história da luta do México pela independência da Espanha, desde o primeiro agrupamento de tropas em 1810 até a separação decisiva do país do poder colonial em 1821.

Por meio de figuras esqueléticas de papel machê e dioramas de prata e barro, a exposição, intitulada “Independência através dos grandes mestres da arte popular mexicana”, retrata várias batalhas, vitórias e cenas da vida cotidiana na longa jornada do país para o domínio.

Esse tema não poderia ter se mostrado mais presciente. Porque se toda a vasta coleção de obras-primas mexicanas de Fomento, incluindo obras de Frida Kahlo, Diego Rivera, José Clemente Orozco e Leonora Carrington – ficará no México, de repente foi colocada em dúvida.

Isso porque em 11 de janeiro o Citigroup anunciou que está deixando o México e colocando o Citibanamex à venda – inclusive o Fomento.

O patrimônio do Fomento inclui uma significativa coleção de arte mexicana, juntamente com imóveis icônicos, como o Palácio de Iturbide e outros grandes edifícios espalhados por todo o país. As notícias de sua venda iminente provocaram posturas e especulações ferozes.

O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, twittou em 16 de janeiro que acreditava que o Fomento Cultural “deveria se tornar propriedade nacional para sua preservação”. Os meios de comunicação domésticos zumbiram com conversas sobre garantir que a coleção seja mantida intacta e crucialmente – no México.

Parte desse aperto de mão é arrogância retórica. Muitas das obras de arte da coleção do Fomento são protegidas por leis federais mexicanas que exigem que itens de importância cultural nacional permaneçam no país.

Em entrevista coletiva no dia 13 de janeiro, o diretor corporativo do Citibanamex, Alberto Gómez Alcalá, tentou amenizar os temores de que os tesouros do Fomento possam acabar no exterior, ressaltando que seus ativos “serão parte integrante e indivisível” do “desinvestimento e venda” do Citibanamex.

Seus comentários aos repórteres sugerem que não haverá compromisso em manter o tesouro do Fomento unido e protegido.

Ainda assim, enquanto vários potenciais compradores, como o bilionário mexicano Ricardo Salinas, o banco HSBC, a fintech brasileira Nubank, anunciam seu interesse em adquirir o Citibanamex, abundam as especulações de que a coleção ainda pode ser desmembrada, com as obras não protegidas por lei saindo o país.

Em 26 de janeiro, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador disse em sua entrevista coletiva matinal diária que o banco deveria ser de propriedade de mexicanos e que seu departamento do Tesouro estava analisando os números sobre o valor exato de seus ativos.

A coleção e seu significado

A coleção de arte do Fomento “sem dúvida se destaca” entre as coleções de arte latino-americanas, disse a historiadora da arte e estrategista cultural Mariana Morales. Desde sua fundação em 1884, quando foi criado o Banamex, a coleção refletiu o espírito nacionalista do México, com “a intenção de refletir o que é o México” ao longo do tempo, disse Morales.

Além disso, a coleção teve um papel fundamental na promoção e preservação da arte popular no México, incluindo obras atualmente exibidas na exposição Independência. “Eles transformaram a categoria dessas obras que eram comumente consideradas artesanato em peças de museu”, disse Morales.

O Fomento alberga ainda “uma das mais completas coleções de arte do século XIX”, disse. Isso tem contribuído amplamente para a pesquisa e documentação deste período da história mundial, graças a “cerca de 2.000 obras pictóricas que vão do século XVIII ao XIX, nas mais variadas técnicas”.

Para os moradores da Cidade do México Pablo Santiago Luna Torres e Leticia Rosas Aguilar, a exposição Independência é um testemunho do significado que a coleção de Fomento tem para a história e a identidade nacional do México.

As obras “captam a história do México, com o folclore mexicano”, contou Rosas. “A independência é mostrada através de crânios e esqueletos, em diferentes épocas e com diferentes materiais.”

“A morte parece ser um tabu para alguns países, mas para nós está relacionada à nossa vida”, disse Luna. “As obras mostram essa mudança, esse tempo e como isso se relaciona com a independência.”

Rosas disse que é “discutível” se a coleção do Fomento deve ser comprada e de propriedade do Estado mexicano ou de uma empresa mexicana. “A verdade é que muitos estrangeiros também… se importam muito com a cultura mexicana.”Não importa quem acabe comprando a coleção, Mariana Morales espera que o Fomento continue contribuindo “para o desenvolvimento, conhecimento e difusão da arte e da cultura no México”, ao mesmo tempo em que apoia e promove obras de artistas indígenas.

Para ela, isso significa manter o acervo intacto, porque desmontá-lo de qualquer forma alteraria fundamentalmente “um acervo histórico e arquitetônico que está em construção há mais de um século”, disse ela.

Saída do Citigroup no México gera temores sobre o destino da coleção de arte