A capacidade de produção de petróleo do Iraque cresceu de 3 milhões para cerca de 5 milhões de bpd nos últimos anos
BASRA/LONDRES: Um acordo de US$ 27 bilhões entre a francesa Total e o Iraque, que Bagdá esperava reverter a saída das principais petrolíferas do país, estagnou em meio a disputas sobre termos e corre o risco de ser descartado pelo novo governo do país.
O Iraque tem lutado para atrair novos investimentos importantes em seu setor de energia desde que assinou uma enxurrada de acordos pós-invasão dos EUA há mais de uma década.
O governo iraquiano cortou as metas de produção de petróleo repetidamente, já que as empresas internacionais de petróleo que assinaram esses acordos iniciais saíram devido aos baixos retornos dos acordos de compartilhamento de receita.
A Total concordou no ano passado em investir em quatro projetos de petróleo, gás e energias renováveis na região sul de Basra ao longo de 25 anos. O acordo, assinado pelo Ministério do Petróleo do Iraque em setembro de 2021, seguiu-se a uma visita do presidente francês Emmanuel Macron.
O ministério, no entanto, não teve acordo sobre os detalhes financeiros do acordo com todos os departamentos do governo que precisavam aprová-lo, disseram à Reuters três fontes do ministério do petróleo e da indústria iraquiana envolvidas ou familiarizadas com as negociações, e está atolado em disputas desde então.
Após uma eleição parlamentar, o acordo agora precisa da aprovação de um novo gabinete iraquiano, incluindo novos ministros de petróleo e finanças, que não estarão em vigor até pelo menos o final de março.
O Ministério do Petróleo do Iraque disse à Reuters que espera que o acordo TotalEnergies seja concluído a partir de então.
A TotalEnergies disse que está progredindo para fechar o acordo, mas acrescentou: “Os acordos continuam sujeitos a condições a serem cumpridas e levantadas por ambos os lados”.
Os termos, que não foram divulgados anteriormente, levantaram preocupações de políticos iraquianos e, de acordo com fontes próximas ao acordo, não têm precedentes para o Iraque.
Um grupo de parlamentares xiitas escreveu ao Ministério do Petróleo em janeiro exigindo detalhes do acordo e perguntando por que ele foi assinado sem concorrência e transparência, de acordo com uma cópia da carta vista pela Reuters.
O Parlamento pode forçar o Ministério do Petróleo a rever ou cancelar o acordo.
AGUARDANDO US$ 10 bilhões
Sob os termos do esboço, a Total está contando com um investimento inicial de US$ 10 bilhões para financiar o projeto mais amplo por meio da venda de petróleo do campo petrolífero de Ratawi, um dos quatro projetos do acordo mais amplo, segundo as fontes.
O campo de Ratawi já está bombeando 85 mil barris de petróleo por dia e, em vez de a Total receber sua parte, a receita vai para os cofres do governo.
A Total deve obter 40 por cento das receitas das vendas de petróleo de Ratawi, disseram à Reuters fontes de petróleo iraquianas envolvidas nas negociações.
Isso supera os 10% a 15% mais comuns que os investidores teriam recebido de projetos anteriores por meio de contratos de serviços técnicos do Iraque, que reembolsaram empresas estrangeiras por custos de capital e produção e pagaram uma taxa de remuneração fixa em petróleo.
Quanto maior a proporção de compartilhamento de receita, mais rápido e menos arriscado será o retorno do investidor.
Autoridades do Ministério do Petróleo do Iraque argumentam que o país precisa ser competitivo com outros países produtores de energia para atrair grandes investidores como a Total.
“Precisamos oferecer mais incentivos”, disse um alto funcionário do Ministério do Petróleo.
A Total também está preocupada com o acordo. A empresa francesa rejeitou ter a Companhia Nacional de Petróleo do Iraque como parceira no projeto, que também está atrasando o fechamento do acordo, segundo as duas fontes.
A INOC é a empresa petrolífera nacional reconstituída do Iraque, criada para emular empresas como a enorme Saudi Aramco, mas seu status legal ainda não foi totalmente esclarecido pelo novo governo e parlamento do Iraque, apresentando um risco para a Total.
A capacidade de produção de petróleo do Iraque cresceu de 3 milhões para cerca de 5 milhões de bpd nos últimos anos, mas a saída de grandes petrolíferas como Exxon Mobil e Shell de vários projetos devido a retornos fracos significa que o crescimento futuro é incerto.
Os desenvolvimentos também desaceleraram devido ao crescente foco dos investidores em critérios ambientais, sociais e de governança. Ao mesmo tempo, o Iraque tinha como objetivo se tornar um rival do maior produtor global da Arábia Saudita, com produção de 12 milhões de bpd ou mais de um décimo da demanda global.
Além de Ratawi, o acordo com a Total consiste em uma usina de energia solar de 1 GW, uma instalação de processamento de gás de 600 milhões de pés cúbicos por dia e um projeto de abastecimento de água do mar de US$ 3 bilhões para impulsionar a produção de petróleo no sul do Iraque.
Este último também foi atingido por atrasos quando o Ministério do Petróleo do Iraque decidiu em agosto do ano passado que queria que os construtores pagassem pelo projeto, revertendo uma decisão anterior de selecionar empresas que o fariam usando fundos estatais.
Ainda está coletando propostas para financiamento, dizem fontes.
bbabo.Net