MOSCOU (Reuters) - A Rússia estava realizando outra demonstração de poder militar neste sábado, com o presidente Vladimir Putin supervisionando exercícios envolvendo mísseis com capacidade nuclear, horas depois que os Estados Unidos alertaram que agora tinham certeza de que Moscou planeja invadir a Ucrânia dentro de dias.
Enquanto isso, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky estava indo para a Alemanha para reforçar o apoio entre os aliados ocidentais, apesar do aumento significativo dos confrontos no leste do país, nos quais um soldado ucraniano foi morto.
Os dramáticos alertas dos EUA, o aumento dos bombardeios nas linhas de frente e a evacuação de civis das regiões rebeldes apoiadas pela Rússia na Ucrânia se uniram para aumentar o medo de um grande conflito na Europa ao mais alto em meio a semanas de tensões.
O Kremlin insiste que não tem planos de atacar seu vizinho, o que irritou Moscou ao buscar uma integração de longo prazo com a Otan e a União Europeia.
Mas os Estados Unidos insistem que, com cerca de 150.000 soldados russos nas fronteiras da Ucrânia - até 190.000, incluindo as forças separatistas apoiadas pela Rússia no leste - Moscou já se decidiu.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse na sexta-feira que tinha certeza de que Putin fez o chamado para invadir, independentemente dos avisos de que isso desencadearia enormes sanções ocidentais.
"A partir deste momento, estou convencido de que ele tomou a decisão", disse Biden em comentários televisionados na Casa Branca.
Biden disse que o ataque pode ocorrer na próxima "semana" ou "dias" e que os alvos incluem a capital Kiev, "uma cidade de 2,8 milhões de pessoas inocentes".
Mísseis balísticos, de cruzeiro
A Rússia anunciou uma série de retiradas de suas forças perto da Ucrânia nos dias atuais, dizendo que estavam participando de exercícios militares regulares e acusando o Ocidente de "histeria" com alegações de um plano de invasão.
Mas Putin também intensificou sua retórica, exigindo que o Ocidente leve a sério as exigências russas de garantias de segurança, e agora está supervisionando pessoalmente os exercícios envolvendo mísseis com capacidade nuclear.
Moscou está exigindo garantias por escrito de que a Ucrânia nunca terá permissão para se juntar à Otan, e que a aliança militar liderada pelos EUA desfaça os desdobramentos na Europa Oriental para posições de décadas atrás.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que os "exercícios planejados" de sábado testarão lançamentos de mísseis balísticos e de cruzeiro.
Ele disse que os exercícios envolveriam quase todos os ramos das Forças Armadas da Rússia, incluindo suas forças aeroespaciais e de foguetes estratégicos, bem como as frotas do Norte e do Mar Negro, que possuem submarinos com armas nucleares.
"Putin, provavelmente, assistirá aos exercícios do centro de situação", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
"Tais lançamentos de teste, é claro, são impossíveis sem o chefe de Estado. Você conhece a famosa mala preta e o botão vermelho", disse Peskov em referência aos códigos de lançamento nuclear.
'Aumento dramático' nos confrontos
A volátil linha de frente entre o exército ucraniano e os separatistas nas regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, apoiadas por Moscou, viu um "aumento dramático" nas violações do cessar-fogo, disseram monitores internacionais da OSCE.
Centenas de ataques de artilharia e morteiros foram registrados nos últimos dias, em um conflito que já dura oito anos e matou mais de 14 mil pessoas.
As Forças Armadas da Ucrânia acusaram os rebeldes de uma enorme nova onda de ataques no sábado, dizendo que houve dezenas de trocas de tiros até as 7h (04h GMT), com um soldado morrendo por ferimentos de estilhaços.
Os rebeldes, que também acusaram as forças ucranianas de novos ataques no sábado, declararam mobilizações gerais nas duas regiões.
Na sexta-feira, eles anunciaram evacuações em massa de civis para a Rússia, onde o governador da região vizinha de Rostov no sábado declarou estado de emergência quando vários milhares cruzaram a fronteira.
Moscou e os rebeldes acusaram Kiev de planejar um ataque para retomar as regiões, alegações ferozmente negadas pela Ucrânia e rejeitadas pelo Ocidente como parte dos esforços russos para fabricar um pretexto para a guerra.
Apesar dos avisos de invasão, o gabinete de Zelensky disse que não mudaria os planos de comparecer pessoalmente à Conferência de Segurança de Munique no sábado.
O líder ucraniano se reunirá com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, o chanceler alemão Olaf Scholz e a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, informou seu gabinete.
"Volodymyr Zelensky espera acordos concretos sobre a entrega ao nosso país de apoio militar e financeiro adicional", disse seu gabinete, acrescentando que retornará a Kiev no sábado.
Na conferência, Jens Stoltenberg alertou que a Rússia só teria uma OTAN reforçada em suas fronteiras se invadisse.
"Se o objetivo do Kremlin é ter menos OTAN em suas fronteiras, ele só terá mais OTAN", prometeu.
Acusando a Rússia de uma "tentativa flagrante de reescrever as regras da ordem internacional", a chefe da UE, Ursula von der Leyen, alertou para um "pacote robusto" de sanções financeiras e econômicas contra Moscou em caso de qualquer agressão.
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