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'Don't be Google': a ascensão de startups focadas em privacidade

PARIS: O Google já usou o slogan "não seja mau" para se distinguir de seus concorrentes, mas agora um número crescente de startups pró-privacidade estão se unindo ao mantra "não seja o Google".

Eles estão adotando o Google Analytics, um produto usado por mais da metade dos sites do mundo para entender os hábitos de navegação das pessoas.

"O Google criou muitas ferramentas boas para muitas pessoas", diz Marko Saric, um dinamarquês que mora na Bélgica e instalou o Plausible Analytics na Estônia em 2019.

"Mas ao longo dos anos eles mudaram sua abordagem sem realmente pensar o que é certo, o que é errado, o que é mau, o que não é."

Saric e muitos outros estão se beneficiando do GDPR, um regulamento europeu de privacidade introduzido em 2018 para controlar quem pode acessar dados pessoais.

Na semana passada, a França seguiu a Áustria ao declarar que a prática do Google de transferir dados pessoais da UE para seus servidores nos EUA era ilegal sob o GDPR porque o país não possui proteções adequadas.

O Google discorda, dizendo que os dados são anônimos e os cenários previstos na Europa são hipotéticos.

No entanto, as startups veem uma abertura em uma verdadeira batalha de Davi contra Golias.

"A semana em que o Google Analytics foi considerado ilegal pela DPA (autoridade de proteção de dados) austríaca foi uma boa semana para nós", diz Paul Jarvis, que administra o Fathom Analytics em sua casa na ilha de Vancouver, Canadá.

Ele diz que as novas assinaturas triplicaram naquela semana, embora não forneça números exatos.

O Google domina o mercado de análise com 57% de todos os sites que usam seu serviço, de acordo com o grupo de pesquisa W3Techs. A ferramenta focada em privacidade mais bem estabelecida, o Matomo, responde por 1% dos sites.

Os players menores sabem que não vão derrubar o domínio do Google, mas seu objetivo é injetar um pouco de justiça e escolha no mercado.

- Aplicação 'Behemoth' -

O momento de superação para os desenvolvedores de software pró-privacidade veio em 2013, quando o ex-contratado da CIA Edward Snowden revelou como as agências de segurança dos EUA estavam envolvidas na vigilância em massa.

"Já sabíamos um pouco disso", diz Matthieu Aubry, fundador do Matomo. "Mas quando ele saiu, tivemos a prova de que não estávamos apenas paranóicos ou inventando coisas."

Snowden mostrou como a Agência de Segurança Nacional dos EUA, auxiliada por um sistema de tribunais secretos, conseguiu coletar dados pessoais de usuários de sites como Google, Facebook e Microsoft.

As revelações de Snowden ajudaram a solidificar o suporte em toda a Europa para sua nova regulamentação de privacidade e inspiraram os desenvolvedores de software a tornar a privacidade central para seus produtos.

A primeira coisa que as startups miraram é a enorme complexidade do Google Analytics.

"Você tem 1.000 painéis diferentes e todos esses dados, mas não ajuda se você não os entender", diz Michael Neuhauser, que lançou o Fair Analytics no mês passado.

Jarvis, que já havia treinado pessoas para usar o Google Analytics, o descreve como um "gigante".

Ao contrário do Google, os produtos focados em privacidade não usam cookies para rastrear usuários na web e oferecem uma variedade de dados muito mais simples, ajudando-os a se manter dentro dos limites do GDPR.

E todos eles fazem disso um ponto-chave de venda em seus sites.

- 'Uma internet alternativa' -

Mas ganhar a vida com essas ferramentas não é tarefa fácil.

Saric of Plausible e Jarvis of Fathom investiram tempo e dinheiro em seus projetos antes que pudessem pagar um salário.

Ambas as empresas ainda operam com uma mentalidade de startup – pequenas equipes trabalhando remotamente entre países tendo contato direto com os clientes.

Aubry, que fundou a Matomo em 2007, quando tinha 20 e poucos anos, lembra-se de estar em uma posição semelhante.

"Durante muito tempo, não tínhamos sequer um negócio em torno do projeto, era pura comunidade", diz o francês de sua casa em Wellington, na Nova Zelândia.

Mas ele diz que sua empresa agora tem alcance global e quer ajudar a criar "uma internet alternativa" não dominada pela grande tecnologia.

Seus colegas estão em um estágio muito anterior, mas certamente concordam com o sentimento.

Jarvis acredita que qualquer mudança de um grande produto de tecnologia é "uma vitória para a privacidade" e ajuda a criar um sistema mais justo.

Mas uma enorme barreira permanece: o Google pode oferecer suas ferramentas gratuitamente, enquanto as empresas menores precisam que os clientes paguem, mesmo que apenas alguns dólares por mês.

As empresas focadas em privacidade dizem que é hora de revisar nossa compreensão dessas transações.

"Todos esses produtos gratuitos que usamos e amamos, não estamos pagando por eles com dinheiro, estamos pagando por eles com dados e privacidade", diz Jarvis.

"Cobramos dinheiro pelo nosso produto porque é apenas um modelo de negócios mais honesto."

'Don't be Google': a ascensão de startups focadas em privacidade